segunda-feira, 1 de junho de 2015

SINTAGRI NOTÍCIAS
Ano V   nº 78  - 28/05/2015 -  Filiado a Faser e Fetrab         

PESQUISA AGROPECUÁRIA DA EBDA SENDO JOGADA FORA: A QUEM INTERESSA?

As estações experimentais da Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola, S. A. – EBDA (pesquisa agropecuária e assistência técnica e extensão rural estatal) foram progressivamente sucateadas no governo Jacques Wagner. E, mais ainda, foi permitida a invasão do MST sem nenhuma providência efetiva de garantir o patrimônio da estatal e os trabalhos científicos nelas realizados. Os mandados de reintegração de posse de áreas invadidas emitidos pela justiça não são acionados pela empresa e, assim, não são cumpridos. E, o que é mais estranho, invasões coincidentes com declarações governamentais de entender ser possível cessão destas áreas a entidades não governamentais. Nestas invasões constata-se desaparecimento de animais de alta linhagem e deterioração de equipamentos. 

MAPA DA DILAPIDAÇÃO DAS ÁREAS DE PESQUISA DA EBDA:
- Estação Manoel Machado / Itambé/BA: melhoramento genético da raça Nelore iniciado em 1956 e estudos sobre sistemas de produção para gado de corte - Invadida em setembro de 2007; .
- Estação Experimental Cruzeiro do Mocó: melhoramento genético da raça Guzerá, desde 1992 - pesquisas relacionadas a sistemas de produção de bovinos e caprinos de leite – melhoramento de Jumento Pega (o único desta natureza no país, representando um patrimônio genético importantíssimo) - Invadida em 2009;
- Estação Experimental de Itaberaba/BA: - melhoramento genético de Gir leiteiro - pesquisa em sistemas de produção de leite para o semiárido (23 anos de atividade) –está sendo perdido o trabalho de preservação e melhoramento de suínos da raça Piau, prejuízo incalculável do patrimônio genético nacional: a Universidade Federal de Viçosa se valeu deste banco genético para a continuação do trabalho com o plantel existente naquela universidade. Invadida em maio/2014;
- e chegou a vez da Estação Experimental de Aramari/BA: invadida em 26/12/2014 - Melhoramento genético de búfalos e de bovinos mestiços (mais de 20 anos) – área de preservação;
- Estação Experimental de Barra do Choça que realiza pesquisa com cafeicultura, fruticultura mandioca e graníferas, abrigando também uma unidade do programa Flores da Bahia, invadida em abril de 2013;

Mais estranho ainda é que o atual governador, o senhor Rui Costa, tenha pronunciado durante a abertura do 16º Simpósio Nacional do Agronegócio do Café, no dia 11 de maio de 2015, afirmando que pretende transformar as fazendas que pertenciam ao órgão em centros de pesquisa, enquanto, paralelamente, está vendendo ou procurando destino não recomendável dos animais de todas as estações experimentais, resultado de grandes esforços de pesquisa.
Para ilustrar, o exemplo da Estação Experimental de Aramari, onde o melhoramento genético de búfalos já tem 20 anos e 23 anos o de bovinos mestiços leiteiros.
Além do melhoramento genético, cujo fruto já se encontra comprometido, são, também, extremamente importantes, os trabalhos relacionados com a produção orgânica e a agroecologia (sistemas agroflorestais e manejo sanitário animal como homeopatia, entre outros). Enfim, um volume significativo de recursos públicos que foram investidos para o progresso científico serão jogados na lata do lixo, como se não tivessem valor algum, mesmo se tratando de trabalhos reconhecidos até internacionalmente, a exemplo:  

 1. Em janeiro de 2014, foi publicado na Newsletter da IFOAM (International Federation of Organic Agriculture Movements) que é ligada à Animal Husbandry Alliance, por convite desta organização, um artigo sobre o trabalho da Estação. Pela importância e ineditismo, o trabalho desenvolvido na Estação contribuiu para a projeção do nome da Ciência Agropecuária Baiana, tendo sido destacado durante o 18.º Congresso Mundial Orgânico da IFOAM, realizado em Istambul/Turquia, em outubro de 2104.

2.      Paralelamente, a FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação) também se interessou pelo trabalho já estando em fase de articulação, no momento da extinção da EBDA, a organização de uma capacitação para técnicos do Haiti sobre produção orgânica de leite.

3.      Preocupados com a extinção da EBDA e com os reflexos que isso teria no comprometimento do trabalho, único no país, a VET.ORG, a Comissão de Pecuária Orgânica da Sociedade Brasileira de Medicina Veterinária, encaminhou uma correspondência ao Senhor Governador Rui Costa, em fevereiro de 2015, subscrita por várias entidades baianas e brasileiras, em que se diz textualmente: “... solicitamos reconsiderar a extinção da EBDA e da estação Experimental de Aramari, atualmente, um centro de referência em pecuária orgânica e agroecologia, motivo de orgulho do Estado da Bahia, com reconhecimento internacional e importância social e ambiental em todo o Brasil.”


Por último, a Estação ainda possui uma importantíssima área de preservação de 189 ha da Mata Atlântica - o bioma mais destruído do país. Conforme dados da SOS MATA Atlântica, de 2013, atualmente restam somente 8,5% de área original deste bioma, em todo o país.

Mas, para o atual governo baiano tudo isso é lixo... Pode ser jogado fora, sem considerar que são recursos públicos investidos em importantes trabalhos... quer dizer, importantes até para as organizações internacionais, porém, pelos visto, não para governo baiano. Paralelamente, é lamentável que a EMBRAPA, tendo participado amplamente das ações das áreas experimentais com recursos do Governo Federal e com material genético, além da participação direta dos seus pesquisadores na construção deste patrimônio, opte pela omissão.


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