SINTAGRI NOTÍCIAS
Ano V nº 78 - 28/05/2015 - Filiado a Faser e Fetrab
PESQUISA
AGROPECUÁRIA DA EBDA SENDO JOGADA FORA: A QUEM INTERESSA?
As estações experimentais da
Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola, S. A. – EBDA (pesquisa agropecuária
e assistência técnica e extensão rural estatal) foram progressivamente sucateadas
no governo Jacques Wagner. E, mais ainda, foi permitida a invasão do MST sem
nenhuma providência efetiva de garantir o patrimônio da estatal e os trabalhos
científicos nelas realizados. Os mandados de reintegração de posse de áreas
invadidas emitidos pela justiça não são acionados pela empresa e, assim, não
são cumpridos. E, o que é mais estranho, invasões coincidentes com declarações
governamentais de entender ser possível cessão destas áreas a entidades não
governamentais. Nestas invasões constata-se desaparecimento de animais de alta
linhagem e deterioração de equipamentos.
MAPA DA DILAPIDAÇÃO DAS ÁREAS DE PESQUISA DA
EBDA:
- Estação Manoel Machado / Itambé/BA: melhoramento genético da raça
Nelore iniciado em 1956 e estudos sobre sistemas de produção para gado de corte
- Invadida em setembro de 2007; .
- Estação Experimental Cruzeiro do Mocó: melhoramento genético da
raça Guzerá, desde 1992 - pesquisas relacionadas a sistemas de produção de
bovinos e caprinos de leite – melhoramento de Jumento Pega (o único desta
natureza no país, representando um patrimônio genético importantíssimo) - Invadida em 2009;
- Estação Experimental de Itaberaba/BA: - melhoramento genético de
Gir leiteiro - pesquisa em sistemas de produção de leite para o semiárido (23
anos de atividade) –está sendo perdido o trabalho de preservação e melhoramento
de suínos da raça Piau, prejuízo incalculável do patrimônio genético nacional:
a Universidade Federal de Viçosa se
valeu deste banco genético para a continuação do trabalho com o plantel
existente naquela universidade. Invadida
em maio/2014;
- e chegou a vez da Estação Experimental de Aramari/BA: invadida em 26/12/2014 - Melhoramento
genético de búfalos e de bovinos mestiços (mais de 20 anos) – área de
preservação;
- Estação Experimental de Barra do Choça que realiza pesquisa com
cafeicultura, fruticultura mandioca e graníferas, abrigando também uma unidade
do programa Flores da Bahia, invadida em
abril de 2013;
Mais estranho ainda é que o
atual governador, o senhor Rui Costa, tenha pronunciado durante a abertura do 16º Simpósio Nacional do Agronegócio do Café, no dia 11
de maio de 2015, afirmando que pretende
transformar as fazendas que pertenciam ao órgão em centros de pesquisa,
enquanto, paralelamente, está vendendo ou procurando destino não recomendável
dos animais de todas as estações experimentais, resultado de grandes esforços
de pesquisa.
Para
ilustrar, o exemplo da Estação Experimental de Aramari, onde o melhoramento
genético de búfalos já tem 20 anos e 23 anos o de bovinos mestiços leiteiros.
Além do melhoramento genético,
cujo fruto já se encontra comprometido, são, também, extremamente importantes,
os trabalhos relacionados com a produção orgânica e a agroecologia (sistemas
agroflorestais e manejo sanitário animal como homeopatia, entre outros). Enfim,
um volume significativo de recursos públicos que foram investidos para o
progresso científico serão jogados na lata do lixo, como se não tivessem valor
algum, mesmo se tratando de trabalhos reconhecidos até internacionalmente, a exemplo:
1. Em janeiro de 2014, foi publicado na
Newsletter da IFOAM (International Federation of Organic Agriculture Movements)
que é ligada à Animal Husbandry Alliance, por convite desta organização, um
artigo sobre o trabalho da Estação. Pela importância e ineditismo, o trabalho
desenvolvido na Estação contribuiu para a projeção do nome da Ciência
Agropecuária Baiana, tendo sido destacado durante o 18.º Congresso Mundial
Orgânico da IFOAM, realizado em Istambul/Turquia, em outubro de 2104.
2. Paralelamente, a FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e
a Alimentação) também se interessou pelo trabalho já estando em fase de
articulação, no momento da extinção da EBDA, a organização de uma capacitação
para técnicos do Haiti sobre produção orgânica de leite.
3.
Preocupados com a extinção da EBDA e com os reflexos
que isso teria no comprometimento do trabalho, único no
país, a VET.ORG, a Comissão de Pecuária Orgânica da Sociedade Brasileira de
Medicina Veterinária, encaminhou uma correspondência ao Senhor Governador Rui
Costa, em fevereiro de 2015, subscrita por várias entidades baianas e
brasileiras, em que se diz textualmente: “... solicitamos reconsiderar a
extinção da EBDA e da estação Experimental de Aramari, atualmente, um centro de
referência em pecuária orgânica e agroecologia, motivo de orgulho do Estado da
Bahia, com reconhecimento internacional e importância social e ambiental em
todo o Brasil.”
Por último, a Estação ainda
possui uma importantíssima área de preservação de 189 ha da Mata Atlântica - o
bioma mais destruído do país. Conforme dados da SOS MATA Atlântica, de 2013,
atualmente restam somente 8,5% de área original deste bioma, em todo o país.
Mas, para o atual governo
baiano tudo isso é lixo... Pode ser jogado fora, sem considerar que são
recursos públicos investidos em importantes trabalhos... quer dizer,
importantes até para as organizações internacionais, porém, pelos visto, não
para governo baiano. Paralelamente, é lamentável que a EMBRAPA, tendo
participado amplamente das ações das áreas experimentais com recursos do
Governo Federal e com material genético, além da participação direta dos seus
pesquisadores na construção deste patrimônio, opte pela omissão.
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